sábado, abril 18, 2015

Utilitarismo intelectual

Se há coisa que me irrita é perguntarem-me porque é que tirei um curso na área das Ciências Sociais se sabia que não ia arranjar emprego na área. Isto pressupõe que o conhecimento académico só serve como mecanismo de procura de emprego. Se a área de estudos não se traduzir em trabalho remunerado onde seja posto em prática o conhecimento adquirido na Universidade... não presta. E esta forma de pensar é perigosa.
Quando entrei na faculdade, os Engenheiros Civis tinham emprego garantido. Quando saí da faculdade, os engenheiros civis já tinham algumas dificuldades. Neste momento, é melhor emigrarem.
Lembro-me duma colega minha de secundário se gabar que tinha sido facílimo encontrar emprego como enfermeira. Até teve oportunidade de escolher o hospital que pagava melhor. E agora?
Se toda a gente escolher as áreas que têm empregabilidade, o mercado nessas áreas ficará esgotado rapidamente. Não há empregos com vagas infinitas. E, obviamente que quanto maior for a oferta de profissionais numa área específica, mais os salários baixam. Porque é que acham que temos falta de médicos mas não abrem mais cursos de medicina?
Se ninguém tirar História, o que será dos museus, das bibliotecas, dos arquivos, dos monumentos? Vamos esperar que se reformem todos os historiadores antes de formarmos outros? Vamos manter a investigação histórica no nível em que está porque fazer investigação não gera empregos? Porque há demasiados doutorados em História que não conseguem trabalhar na área? Afinal que utilidade tem a História? Até nos pode impedir de cometermos erros cometidos anteriormente. Mas o que é que isso interessa?
Outro exemplo muito giro é a Ciência Política:
- Porque é que tiraste um curso de ciência política? Para seres político?
- Não. Numa democracia, qualquer pessoa pode ser política independentemente das suas habilitações literárias desde que reúna votos para ser eleito.
- Então para que é que isso serve?
Esta conversa lembra-me sempre um professor que tive e que dizia que a pouca importância que se dá à ciência política é sintomática duma democracia recente que ainda não amadureceu.
Para que serve então a ciência política? Para os americanos serve para isto:
Activist, Advocate/Organizer; Administration, Corporate, Government, Non-Profit, etc.; Archivist, Online Political Data; Budget Examiner or Analyst; Attorney; Banking Analyst or Executive; Campaign Operative; Career Counselor; CIA Analyst or Agent; City Planner; City Housing Administrator; Congressional Office/Committee Staffer; Coordinator of Federal or State Aid; Communications Director; Corporate Analyst; Corporate Public Affairs Advisor; Corporate Economist; Corporate Manager; Corporate Information Analyst; Corporate Adviser for Govt'l. Relations; Corporate Executive; Corporation Legislative Issues Manager; Editor, Online Political Journal; Entrepreneur; Federal Government Analyst; Financial Consultant; Foreign Service Officer; Foundation President; Free-lance writer; High School Government Teacher; Immigration Officer; Information Manager; Intelligence Officer; International Agency Officer; International Research Specialist; Issues Analyst, Corporate Social Policy Div.; Journalist; Juvenile Justice Specialist; Labor Relations Specialist; Legislative Analyst / Coordinator; Lobbyist; Management Analyst; Mediator;Plans and Review Officer, USIA; Policy Analyst; Political Commentator; Pollster; Public Affairs Research Analyst; Public Opinion Analyst; Publisher; Research Analyst; State Legislator; Survey Analyst; Systems Analyst; Teacher; University Administrator; University Professor; Urban Policy Planner...
Para os canadianos serve sensivelmente para a mesma coisa, Aliás, para os Americanos é dos empregos mais bem pagos para quem não gosta de stress.
Claro que estamos a falar duma realidade diferente da nossa. Mas será assim tão diferente que nós nem sabemos o que é a ciência política?
Aqui mais perto, em França, de acordo com dados de 2012, 65% dos licenciados em Ciência Política trabalhavam no sector privado, 7% trabalhavam em organizações internacionais ou instituições Europeias e 28% trabalhavam no sector público. Ah e tal mas podiam estar a lavar escadas... Será? Com um ordenado bruto médio de 43 856 EUR anuais, 15 meses após acabarem o curso... nem se pode dizer que estivessem a ganhar ordenados de call centre...
Que tipo de sociedade seremos se, no futuro, a formação académica se tornar utilitarista e ignorarmos as áreas artísticas, as ciências sociais e humanas? Seremos umas bestas quadradas. Mas seremos umas bestas quadradas com emprego na área que estudámos. Será? Daqui a 10 anos, quando qualquer criança tiver noções de programação e for possível criar software com a facilidade com que se cria uma apresentação em Power Point, haverá lugar para todos os engenheiros informáticos?
Lembram-se quando os advogados eram bem remunerados e tinham emprego garantido? Depois apareceram faculdades privadas como cogumelos a dar cursos de direito a quem acabava o secundário com média de 10... E agora nem quem tira Direito numa Faculdade de jeito se safa...
Cada vez que alguém reduz a formação académica à sua utilidade prática imediata, está a contribuir para a limitação do conhecimento. E sabem qual é o nome dos intelectualmente limitados? Estúpidos!
Se o objectivo é ficarmos mais estúpidos, o caminho é esse. Reduzam-se só e apenas ao que vos pode pagar as contas ao fim do mês.

domingo, abril 05, 2015

A língua Portuguesa é tão rica...

Enquanto portugueses, se há algo de que não nos podemos queixar, é da Língua Portuguesa. Temos vocabulário, ditados e expressões populares que se adaptam a todas as situações. Por isso é que, cada vez que um português diz uma expressão em inglês no meio duma conversa na sua língua nativa, leva logo o rótulo de bimbo. Lembram-se da conversa da treta e do "Do you know what I mean?" "Anyway". A menos que aspirem a ser um Zezé ou um Tóni, não usem expressões em inglês!
E já que falamos em misturar línguas numa única conversa, aproveito para informar que se usarem expressões em francês, não parecem mais finos nem intelectuais... só parecem parvos. 
Capisce?