domingo, março 30, 2014

Peixinho gourmet, não?

Como já toda a gente reparou, a comida agora é toda gourmet. Temos pregos gourmet, padarias gourmet, tascas gourmet, pastelarias gourmet, mercearias gourmet, leitarias gourmet, hamburguerias gourmet, qualquer porcaria é gourmet independentemente de ser mesmo gourmet ou uma invenção pretenciosa intragável! Qualquer dia, até temos roulotes a venderem sandes de torresmos gourmet!
Mas peixarias que é bom, está quieto. Em Lisboa, há uma meia dúzia! Quem quer peixe tem de ir ao supermercado ou acordar suficientemente cedo para ir ao mercado (ou à "praça" como diz a minha avó).
As peixarias aqui do Areeiro e Alvalade fecharam. Possivelmente porque toda a gente passou a comprar peixe nos hipermercados... Se fecharem o mercado de Alvalade também, está o caldo entornado!
Em Paris não é assim. E se há sítio verdadeiramente gourmet é a capital da França! Aliás, a própria palavra gourmet tem origem francesa. E sabem o que é que há em Paris? Peixarias! Em todo o lado! Há a loja na rua, há a banca na feira de domingo, há peixe fresco e mariscos em cada esquina e não estão dentro duma grande superfície comercial qualquer.
Querem armar-se em gourmets? Abram uma peixaria! Não é difícil... Basta terem peixinho fresquinho e um espaço lavadinho. Se acharem que ainda convence alguém, chamem-na peixaria gourmet... Pode ser que também atraia os wannabes...

domingo, março 09, 2014

O meu Facebook mostra-me como é possível tornar o Dia da Mulher, ridículo!

Hoje é dia da Mulher. Não é o dia da esposa, não é o dia da mãe, não é o dia da gaja com umas pernas giras nem o dia dos ramos de flores. É o dia da Mulher!
E o dia da Mulher pretende prestar homenagem às heroínas que se revoltaram e lutaram por melhores condições de trabalho. Serve para celebrar as conquistas das mulheres na luta pela igualdade.
Por isso, dar florzinhas à esposa que passa a vida a desempenhar tarefas domésticas e a criar os filhos sózinha porque o marido não mexe uma palha em casa, é rídiculo. Isso não é homenagear a fêmea da casa, isso é relembrar porque é que ainda é preciso existir um dia da Mulher.
O problema é que a própria esposa aprecia este gesto e até vai contar às amigas que o inútil preguiçoso de lá de casa, é tão bom marido, que passou o dia no sofá mas teve a sensibilidade de apanhar uma flor do canteiro da vizinha quando foi ao café enquanto ela lavava a loiça do almoço que cozinhou durante 2 horas! Que bom homem! Há fêmeas de sorte!
Já dizia Simone de Beauvoir, "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos".
Resumindo e concluindo (foi fácil e rápido): O dia da Mulher é frequentemente celebrado pelas razões erradas. Ser Mulher não é ser esposa, não é ser mãe, não é ser doméstica e muito menos um objecto sexual. Ser Mulher é ser uma pessoa que deve ter a liberdade de optar por ser qualquer uma dessas coisas... ou nenhuma delas... sem ser descriminada por isso.
Pronto... confesso que não consigo colocar as domésticas em pé de igualdade com quem tem emprego, mas um dia destes escrevo sobre isso.

sábado, março 01, 2014

Gostava de ver um programa de culinária em que o chef fosse honesto

Em todos os programas de culinária, os chefs provam os pratos que acabaram de fazer e dizem-nos que estão perfeitos, fantásticos, saborosos, divinais e mais uma série de adjectivos que se podem aplicar a comida.
O que eu adorava era ver um cozinheiro provar o prato que tinha acabado de fazer e dizer:
- Xiiiiiiiiii! Que horror! Está completamente insonso. Esqueci-me do sal.
Ou mesmo:
- Esqueçam. Não experimentem esta receita. Está horrível!
Acham mesmo que nós acreditamos que ninguém se engana no mundo da culinária? Acham mesmo que  os suspiros ficam fantásticos com uma toranja tão amarga que faz as lágrimas virem aos olhos?
Para mim, no dia em que um cozinheiro admitir na televisão que acabou de fazer um prato intragável, os programas de culinária vão ganhar muito mais credibilidade.